Calou-se tudo ontem. Puxei os
ombros para trás, mal sabia, e comecei a dizer toda a verdade a quem ouvia. Entornei
entretanto metade das palavras que tinha a dizer porque já não me concentrava,
trocava as linhas e acabava por fazer tratados com o diabo e sei lá que diabo
era aquele, verdade seja dita.
Fiquei ainda a pensar que nem sempre tudo tem de acabar na mesma estrada com os olhos mortos e desorbitados e se já fiquei sem reflexão ou poesia é porque ontem morri já que nos matam diariamente a força. e tudo o que tinha era medo, medo que tudo se voltasse a mexer não não era esse medo, minto tentando desmentir e acabo apenas por me perder porque acho que nunca saberei explicar o ar sem ar que passam nas estradas nocturnas onde as luzes vêm tardias e a fuga nunca é possível.