18.3.14

nas ruas desencontradas uma janela fechada

sabia ao certo o incerto:

queria correr e corria
e olhava depois de novo o relógio
tique taque
andava para trás 
tempos revoltos e
caminhos impedidos
bric-ầ-brac 
e contava os segredos 
de uma arte antiga
ora os discursos
de um ser desacompanhado

ora um pássaro depois
de ter perdido o seu canto
lá já no alto já cá térreo
perdido de novo às horas nocturnas

era uma pena
no início do poema
a ficar para sempre ascética
de ser deixada ao vento
que de quando em sempre
o levava a perder as cores que o faziam

queria escrever e não escrevia
queria pintar e não pintava
ou queria ainda voar e não voava
depois,
queria viver e não podia