23.6.14

um olhar
e eu salto em corrida do meu banco
agarro com força as tuas costas e prendo-te os braços
dou-te três encontrões como nos velhos tempos
piso-te os pés como sempre fiz
tapo os teus olhos como era antes
puxo os teus cabelos como nos antepassados
agarro o teu pescoço tal como antigamente
só para me deixar ficar

revolto os tempos interrompidos só pelas chuvas
digo-te como foram as escassas horas
antes de ver tudo longe, como tudo tão perto sempre foi,

um outro encontrão 
e saltamos os dois
antes de darmos de novo a mão,
e queixamos-nos depois
que são os tempos que não nos encontram
são as ruas que nos fogem
mas nem assim fugimos aos rios de água
como sempre fizemos

saltamos desta vez um contra o outro
sempre todo o antigo em mira
e só esperamos que os dias se repitam
só para voltar, só para voltar
só para repetirmos as velhas casas
repetirmos esses cantos das casas,
revivermos as antigas fotografias
esconder as mãos dos barulhos repentinos
lembrar enfim, o presente contínuo
e olhar, 
desta vez só olhar,
e ficar, 
só nos nossos jogos,
só na esperança das proximidades. 

e nesses bancos,
relembrar ainda os outros bancos longínquos,
sentarmos-nos como dantes,
esquecer um espaço
tirar-lhe todas as dimensões
agarrá-lo a nós
e nunca o soltar.