4.6.14

aos ecos

paramos, uma vez mais.
tenho a impressão que se ouve sempre mais
descemos uma vez mais, para afugentar os arrepios
ainda assim
dizem que os espíritos passam por nós
e só eu sei o que é ouvir os ecos das cancelas [ref]
ouvir os espirros das alminhas fora de horas
(ainda bem que ninguém passa)
ouvir de novo os passeios cruzados
deitar fora os papéis escritos a três
guardá-los de novo que as memórias ainda nos falham
descer uns centímetros, fazer cara feia às máquinas
cortar o pescoço pela camisola
nada mais existir depois do opaco
a fauna intelectual a desaparecer
a morrerem todos debaixo de si mesmos, 
a não conseguirem respirar 
até que a senhora sempre velha agora nova
lhes dissesse
catraios de um raio! deixem-me descer as escadas
que isto nunca pára. 
entretanto já foram para outro lado os espíritozinhos
foram com as correntes de ar
e eu só me fico 
pelas marés
e nem pesco nada disto
fico sempre a ver navios
bom, águas passadas
ah, esqueço-me sempre de adiar as conversas!