18.2.15

três à noite

vamos dizer - 

a noite é clara, 
e eu sigo uns passos escuros
tropeço nos sons que me ensurdecem.

digamos - 

dizemos que tudo se afasta das intenções
e as palavras pausadas
só se ouvem perto
já longe do que se foi.

para dizer - 

enquanto percorremos os espaços
que se escondam  os passos
para que se ouça melhor ao longe
o que foi dito perto





23.10.14

Poem for B.

Os gatos tornam-se bons...
Já nem vêm ter connosco
Só para pedir comida
Fazem gracinhas e rebolam
Nos nossos hábitos de observadores
vêm ter connosco e pedem festinhas

Quando damos conta,
Relembramos os ventos que nos dão
E sem que saibamos
Já o gato está ali morto no chão.

29.9.14

Tenho a mesma cara, em frente de um espelho qualquer, e ainda penso que este é o pensamento mais escondido que tenho mas as expressões são sempre as mesmas.
Hoje matei um bicho e nem uma cara de nojo fiz, hoje senti que me dilaceravam o cérebro com a dor mais aguda que sei e nem um som ou sobrancelhas mexi.
Ainda conseguia correr já sem cabelos ou pele ali naquele chão e o o tudo era o nada, sempre assim, e as luzes que me focavam nem me salvavam só violavam ainda o que restava da minha pele já quase morta e eu como sempre nem me importei.
O corte que atrofiava ainda mais a forma até podia ser o nó que se desfaz da corda a que estamos presos mas eu nem me apercebi.

4.9.14

Sem fim,
O fim espera-se a si mesmo.

Mesmo que as horas passem
E os sons se manenham constantes
Anunciando o continuar das coisas
Só o continuar.

As casas abrem-se sem as portas
À espera do anúncio tardio
De que tudo é eternamente fraco

Caso fossem selvagens as formas das nuvens
Numa nova imagem de cores estranhas
Ao céu,
O dia que ainda agora nasceu seria sempre velho
Confinado ao eterno novo
Sendo o novo já velho a cada dia que passa
Porque nunca era o mesmo para nós

7.7.14

vero II

Há o perigo de um grito lindíssimo
quando andas assim comigo no invisível
                                                                 Cesariny

esperar um corpo 
para depois,
num linho desfeito, 
poder dizer no escuro
que nunca foi tão noite,
como no nosso princípio,
como se a noite já não quisesse ser fria,
já só um respirar
sem esperar

dobrar os dedos agora encostados,
encaixá-los em nós
na nossa pele
refazendo as pedras que éramos
até ao recomeçar dos dias 

esquecer o resto do mundo
perguntar em segredo o que foi feito de nós,
abraçar o resto dos dias,
fazer deles o nosso fim e não mais esperar.

pisar as águas
esconder os passos fugídios
dos que nos ouvem
(enfim, isto de te saber os passos...)
e dançar nesses rochedos,
nós as pedras vivas
nós e as serras nas casas sós
nós dentro das casas e as aves ao pé de nós,
entre nós, 
uma mão noutra mão
cadências de dias iluminados
afirmam um só corpo e um beijo,
entretanto,
entre tantos,
a esconder de nós 
o resto dos dias que foram
por fim, nem o frio já nos chama.

isto, ali em frente. 

2.7.14

estava tudo muito bom, obrigada.

um telemóvel partido,
com uma pitadinha de arranhões nos joelhos,
um bocadinho de estrabismo nocturno
acompanhado de um telemóvel esquecido
não esquecendo ainda um passe inteiro
e um atraso matinal bem compostinho. 
no fim, não se esqueça de mandar tudo à merda 
para que não se queimem de novo as línguas 
nos cafés escaldados bebidos nas noites anteriores. 

28.6.14

vero II

os meus lábios tintos
a encher o dia iluminado do teu corpo
ao pintá-lo ainda com o teu nome
entre dedos incertos de plumas
e fragmentos da pele 
nas pedras duras pedras puras das serras
numa oração do silêncio contínuo

e depois,
não querer fugir, 
esperar enfim o caos 
se qualquer outra palavra seria demais
e porque escolhemos a noite 
como horizonte

27.6.14

vero

o chão é apenas o chão
mas nos teus pés 
é o nosso outono
por ainda sermos 
as crianças nocturnas 

e entro nesse chão 
queimando os poemas
ao dizê-los em segredo
no teu ouvido
:

hoje, deitamos-nos longe
do poema  

26.6.14

Os ciclos modernos
Como se Bartók não fosse assim tão subversivo
Só o fim dos cineastas que fogem às funções
E ainda citam Rembrandt na corte.
Mas são eles que morrem por não nos ouvirem

23.6.14

um olhar
e eu salto em corrida do meu banco
agarro com força as tuas costas e prendo-te os braços
dou-te três encontrões como nos velhos tempos
piso-te os pés como sempre fiz
tapo os teus olhos como era antes
puxo os teus cabelos como nos antepassados
agarro o teu pescoço tal como antigamente
só para me deixar ficar

revolto os tempos interrompidos só pelas chuvas
digo-te como foram as escassas horas
antes de ver tudo longe, como tudo tão perto sempre foi,

um outro encontrão 
e saltamos os dois
antes de darmos de novo a mão,
e queixamos-nos depois
que são os tempos que não nos encontram
são as ruas que nos fogem
mas nem assim fugimos aos rios de água
como sempre fizemos

saltamos desta vez um contra o outro
sempre todo o antigo em mira
e só esperamos que os dias se repitam
só para voltar, só para voltar
só para repetirmos as velhas casas
repetirmos esses cantos das casas,
revivermos as antigas fotografias
esconder as mãos dos barulhos repentinos
lembrar enfim, o presente contínuo
e olhar, 
desta vez só olhar,
e ficar, 
só nos nossos jogos,
só na esperança das proximidades. 

e nesses bancos,
relembrar ainda os outros bancos longínquos,
sentarmos-nos como dantes,
esquecer um espaço
tirar-lhe todas as dimensões
agarrá-lo a nós
e nunca o soltar. 

14.6.14

por estas horas, na terra, comemoram-se os Antigos
nestas terras, nestas horas, desfazem-se as ideias
sempre velhas, sempre puras
e eu só me encontro em estúdios 
em mundos incompletos
pelas realidades das esquinas
e nem que venham as pequenas vozes
cantar aos meus ouvidos os mesmos jeitos
eu lhes respondo pelos outros, 
não lhes digo de que é feito este mundo
porque no fim são tudo sempre tudo
construções e máquinas da natureza
em conspiração para corromper 
este fundo sempre à mesma hora.

9.6.14

à página 26

e se os tempos mudassem, 
só um resquício das nossas caligrafias em folhas perdidas
e se não existisse agora um corpo 
que controlasse um sangue vivo 
sempre à espera do grito ecoado
e se todas as folhas 
                         caíssem
e se todas as palavras
 (deixassem de existir)
e se 

8.6.14

semelhantes bilaterais

depois de gritos variados e desequilíbrios vocais diversos
acham-se agora os ignorantes, sempre ignorantes nos meus jogos,
atrevidos pela cegueira que os impede da tangência factual. 

calam-se e ficam sem palavras,
a verdade que lhes chega é evidentemente desactualizada 
nem chega ao presente ano abençoado pelos senhores

acham-se ainda na posse das risíveis qualidades virtuosas
significados proto-protuberantes exímios das cognoscências 
que exalam ainda o cheiro a mofo das minhas velhas vestes

para gáudio dos que impõem estas palavras,
há sempre ainda, por falta das humildades menores,
o aval das descrições arbitrárias e das graças às pequenas alminhas
chega sempre algo para manjar 
nem os pobres resvalados no chão que pisamos
sabem do que é feito das iguarias de que dispomos
sempre à mão
e só no fim, quando nem sabem que lhes chega o fim,
ficam então, pobres coitados, já sem jogo ou vozinha que os proteja,
porque entretanto os maus e horríveis, 
à classe que pertencemos, 
estão já deitados e foram dormir
esperam somente que os outros apaguem a luz
só para no dia seguinte lhes dizermos que nem o sono os descansa
que bem podem fazer essa espera deitados
porque afinal são sempre os mesmos que se erguem
e quanto a isso não tenho nada a contrariar. 
 

7.6.14

ao 1º e 4º em países diferentes, depois de confusões literárias

nem que tudo nos diga o contrário:
hoje caí nas pedras que pisámos
fiz delas uma almofada só para tudo terminar 
feito nada feito nada

e se essas escadas cada vez mais fundas
ainda estão perdidas
eu só me desvio delas e dos senhores sentados nos passeios
contorno as línguas e digo mentiras
os Reis que arranjem outras casas
nos Algarves, 
para que lhes possa dizer: 
aqui viveram juntos e felizes nem sempre
e sempre a destruição das luzes seculares 
os fez pensar que eram eles os donos 
das pedras
das calçadas 
das ruas por mim perdidas
das outras ruas encontradas
dos escritores desengonçados
dos poetas e outros perdidos
do sol sempre à mostra
a queimar a pele
a queimar os ogli verdi 
a queimar os cabelos
a corromper a cor branca

6.6.14

os meus passos no teu chão
e já nem sei de quem é esta terra
ou os caminhos que existem sempre agarrados
a alguma ideia, aos sentidos, de vez em quando
entre, só entre as paredes que nos afastam
e outras que adiantam as distâncias
ora, de novo o ter de  caminhar


4.6.14

eles falam como se as pedras negras
fossem ou tivessem sempre sido a sua criação final
mas nem as ondas que sempre embatem nos nossos pés
nos dizem que os outros, esses sim, sempre os outros
são já uma flor partida 
com as raízes ainda em terra fresca

eles falam como se soubessem o fim dos eternos maus
mas nem assim sabem melhor que as tais pedras
foram postas lá por quem não sei
talvez saiba, 
eles próprios falam de nós
nós a partir a pedra maior em pedras ínfimas 
depois as pedras separadas
e eles sempre falam, afinal. 

poema assinado

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aos ecos

paramos, uma vez mais.
tenho a impressão que se ouve sempre mais
descemos uma vez mais, para afugentar os arrepios
ainda assim
dizem que os espíritos passam por nós
e só eu sei o que é ouvir os ecos das cancelas [ref]
ouvir os espirros das alminhas fora de horas
(ainda bem que ninguém passa)
ouvir de novo os passeios cruzados
deitar fora os papéis escritos a três
guardá-los de novo que as memórias ainda nos falham
descer uns centímetros, fazer cara feia às máquinas
cortar o pescoço pela camisola
nada mais existir depois do opaco
a fauna intelectual a desaparecer
a morrerem todos debaixo de si mesmos, 
a não conseguirem respirar 
até que a senhora sempre velha agora nova
lhes dissesse
catraios de um raio! deixem-me descer as escadas
que isto nunca pára. 
entretanto já foram para outro lado os espíritozinhos
foram com as correntes de ar
e eu só me fico 
pelas marés
e nem pesco nada disto
fico sempre a ver navios
bom, águas passadas
ah, esqueço-me sempre de adiar as conversas! 


29.5.14

Nem sei porque existem só os definitivamentes
Espaços agora mortos sem cortinas a
Esconder o fim que sempre se soube

Nada é tão eterno como a beleza convulsiva
Do fim
E o perto nunca esteve tão longe
Do longe qe se quer perto