uns dizem que a vida é demasiado pequena para os mortos
os mortos nada dizem, pois claro
batem palmas nesse festival que eu fui
em sonos e sonhos,
sem prazer
deixam-me a tocar a flauta, que nela não toco
passam-me a voz, que afasto com gritos
secos, mudos,
onde paira a aventura dos festivais cansados
com os pés a baterem no pó da terra
que se levanta, com pompa
afasta as pombas, negras do pó da praia
dançam em separado, os mortos
balançam ao som das vidas,
em coreografias que lhes desenharam
os que cá ficam, os que não querem partir
afastam-se uns de outros, na terra
caem defuntos no ar.
mas que morte esta...
leva-me a mente à dor
do meu próprio desenho,
que, como alguém disse,
cabe-me a mim o engenho!
este pó da praia que não me deixa respirar
(eu é que incentivo à invenção)
dizem as vozes gritantes:
deixa-nos dançar,
já te apanhamos no ar.