20.4.13

marés

andas a tremelicar numa espiral de sonhos perdidos.
Eram eles sonhos?
Eram miragens sóbrias do que tendes a ser?
Eram meras miragens do teu reluzir?
Nada na tua mente.
Rodopia em espiral vivificante.

Come-te vivo enquanto navegas no mar, 
onde deitas os teus únicos e próprios despojos.
Maré alta. 

Sais cego desse mar,
caem-te os braços.
Descais os ombros onde sal não há.
Cais em ti, novo rumo. 
Maré baixa, por ventura,

Passa-me a tua mente, 
vives em demência.
Navega no teu caminho,
navega à deriva e onde prevaleces.
Onde existes. 
Onde não és invisível...
porque haverias de o ser?

És apenas o capitão do teu navio.
Passas pelos barcos antigos,
nesse porto velho.
Gritas o teu nome, 
esperas que o eco
ecoe aos mais altos ventos. 

Ficas a saber que os ventos estão mortos.
Palavras gritantes com que cortas 
e matas o que te ouve. 
Observas a cena com escárnio.

Veste-te de preto
porque o mar 
é verde e azul.
Vagueias pela areia,
no desespero de encontrar 
outras coras. 

Gritas, 
uma vez mais. 
Forma-se uma tempestade,
acodes-te,
no desespero de ser salvo. 
Nunca foste são. 

Cais ao pé do cais.
Afogado em lembranças altas
como as marés. 
O mar recolhe-se,
vês os despojos 
da euforia do mar. 

Recolhes-te tu também,
sabe bem voltar a casa.
O vento já passou por ti,
sim. 
Por ti.
Já não existes. 
Ou será que ainda és? 
Existes?
Ou és meramente visível? 
Deixaste de ser.
Existes para ser visível,
morres pela invisibilidade.