Há forma de acordar vizinhanças enquanto defuntos ficam na sua eterna calma de espasmos sintéticos. Deixem-lhes entrar o sol pelas casas sem saberem que sol é o que lhes entra pelas casas para dizerem que o barulho que ouvem de noite não é o corpo morto mas tão-só o cansaço dos dias avernos e constantes. Quis eu elevar os barulhos que já dão de si nas torres e cúmulos falseados para fazer saber o corte no sol que entrava. Respondem portas com luzes equívocas vindas de outros lados, enganados pela simples forma de iludir o barulho que se faz. Se é esta uma carta sem assunto faz-se o reparo eloquente em que o homem encurvado escreve na sua hora de leito afinadamente cantado:
“quis eu mover os meus braços
para que soubesse o recorte
dos teus traços
e neles me perdesse
como quem pressente, eternamente,
o arrepio de um beijo”.
Depois já na sua hora, para sempre eterna nos seus compassos vocabulares, soube capital o jeito de ser normal avistar as trémulas concretudes das descobertas. Há quem cante desengonçadamente que os olhos não se olham mas que vêem subliminarmente as veias livrescas de quem inventa, dia por dia, o medo do olhar. É pura a semente de capital e de olhar cruzado pelo avançar concreto dos dias em que vamos aludindo à imensidão.