quem saberia que, anos depois, os espaços se reencontram...
pessoas diferentes, dizem e pensam.
penso eu, também.
quem era aquele cisne, ali, perante o riso dos outros.
será ainda ave a que acolhe agora o olhar pesado de todos.
quem pensa quem era essa pessoa que observava o cisne.
fui eu, depois.
(em noites bastante tardias)
porque se essa antiga pessoa para nada olhava
agora olha o mundo, olha o cisne e olha o que aí virá
a antiga pessoa escuta a nova com olhos orgulhosos
a nova olha a antiga com esperança.
(espero que não se voltem a encontrar)
são dolorosas as palavras míseras que a antiga não profere para a nova.
a nova não sabe que conselhos dar à antiga.
sabe somente que é o que não quer ser.
a antiga logo percebe que a nova não é o que quer mostrar.
as estátuas ali, nos mesmos sítios, em formas transformadas pela grande cobra,
estendem-se em poses pensantes reconfortando os cisnes que ali não sabem o que fazem.
a nova e a antiga olham-se com olhos vazios e familiares.
ninguém lhes disse que eram a mesma pessoa.
ninguém lhes disse que não eram a mesma pessoa.
talvez numa outra era se encontrem todos de novo.
a antiga, a nova e talvez se junte a que será.
talvez se junte quem a nova queira ser e fique pelo caminho a que será.
talvez não venha ninguém.
talvez o cisne morra e as estátuas ganhem vida e, depois de tanto pensarem,
ajam como querem ser.
Essas que tiveram eternidades para pensar,
movem-se agora na direcção do que sempre quiseram.
Solidificando apenas os seus desejos de outras eras.