vamos cantar à matéria para sermos altos.
vamos escrever um soneto aos poetas mortos para sermos maiores
fiquemos, por fim, a observar a aspereza de cá continuarmos
sem vermos a matéria que somos
sem nos elucidarmos na matéria que queremos ser
nas palavras que são cortadas
escrevo o que posso
na fantasia dos campos e nos adiamentos das cidades
nessa matéria eloquente que dista dos primórdios singelos.
a cidade torna-se depois no sonho ao som de novos ritmos
escondidos aos que nos campos se perpetuam.
é esta a matéria que vivemos
é entre tantas outras o que nos perfaz
em mímica redobrada para não espantar os mortos
que escrevem aos baluartes nocturnos de poesia
ao beberem o sangue dos deuses petrificados,
extasiados com as voltas que dão
em camas vazias do frio nas noites de julho
onde se consomem tardiamente as últimas palavras
que se soltam de tantas pedras que lhes amolecem o riso
dos que, no pejo de serem apenas, se contorcem ao calor
das novas eras.
talvez a cidade se adiante
e consuma nova matéria.
a matéria fantástica
de pregar às tempestades secas
que somos, afinal.
às tempestades que seremos,
no fim.